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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

nicotine


05/11/2010 02:22 am. Depois de um analgésico mal digerido, me encontro agora vagando de um lado para o outro no meu quarto de 4 metros quadrados, semi nua, inquieta, latente. A TV mal sintonizada e a programação sem graça já me corroera o último fio de paciência. E por lembrar do peso exagerado que esse dia pôs nos meus ombros, tudo que quero é um cigarro; Esse maldito artifício que toma meu fôlego quando volto pra casa, me enchendo de uma plenitude que as 24h não me proporcionaram. De janelas abertas, sinto a brisa gélida da madrugada eriçar minha pele. Luzes apagadas e a rua outrora tão cheia de vida, agora agonizam sob um feixe iluminado do poste. Meu reflexo no vidro do carr a frente não mostra, grita! Uma silhueta perturbada soltando fumaça. O café frio desce mecanicamente e em mais um devaneio sem hora desperto coma brasa de encontro com meus dedos, não estou satisfeita. Meus poucos trocados se resumem em meros 7 sobreviventes de uma rotina peculiar. E nenhum outro vício arranjado nos becos periféricos abriria minha mente nesse instante. Eu nunca estive tão lúcida! E por enxergar além das barreiras do orgulho, dei-me conta que jamais estivera certa. Mas essa selva não permite a boa vontade, mantive o erro por agir contra a minha natureza, não nasci para ser ovelha. Tenho sangue de predador e o peso de um coração estúpido me enjaulou na ilusão mais inútil. O cheiro de roupa limpa dos lençóis se confunde com o cinza tóxico que sai do meu peito. Desisti do café, uma água é a melhor pedida. A cápsula permance presa a minha garganta e junto com ela todas as mágoas ressuscitadas em uma só data. O ponteiro tem pressa, o relógio nunca pareceu tão vivo! No segundo ou terceiro trago entonteço por relembrar as dores, as manchas, as falhas que trouxe, causei, sofri. Nesse viveiro ofídico quem tem moral de julgar? A hipocrisia fala mais alto em todos os círculos e por mais tardar que seja, nesse sugar profundo que me fez tossir, só consigo pensar em uma palavra: Basta! Meu lado anfíbio de temperatura constante e circulação meticulosa agora não é nada. Sinto 500º de fogo sob me pulso, eu não quero mais calar. A revolta veio a tona como a maior das necessidades, fome e sede passam despercebidas, o que eu quero ainda não tem nome. Bendito aquele ser sem escrúpulos, nessa sociedade fétida não cabem os candidatos a canonização. Já acreditei na bondade, na inocência, talvez por ter uma mãe que é uma heroína. E é nela que eu deposito minha última dose de crença... Preciso fechar as janelas, uma chuva desavisada invade minha cama molhando meu rosto. Não sei o que sentir, não sei por onde começar. São tantas criaturas, e minha mente pecaminosa é rica em detalhes e informações que valem o meu peso em ouro. Chego a temer o que vejo no fundo dos meus olhos diante do espelho. Pele branca, poucas sardas, olheiras, boca vermelha... Uma fera. Apostarei minhas últimas fichas no que acredito, em um ideal que não me trará o céu, mas a sobrevivência na Terra. O inimigo está a espreita, por toda parte. Nada mais me importa, eu só quero um cigarro. Se a guerra começou, que vença o pior.